Não sou uma preta linda
Quero começar esse texto já te fazendo uma pergunta: você já olhou para uma mulher e disse que ela era uma preta linda? Se sua resposta foi sim, nós precisamos conversar e alinhar algumas coisinhas.
Antes de tudo, é bom a gente lembrar que beleza é um julgamento de cada um, então, o que é bonito para mim, talvez não seja para você e assim o mundo caminha e nós continuamos plenos e prósperos.
Provavelmente você não veja nada demais nessa frase (“Você é uma preta linda”) e acredito até que você esteja tentando fazer um elogio, mas querido(a), tu tá praticando uma coisinha chamada subdivisão da beleza.
Ainda não percebeu onde quero chegar? É bem simples: quando você fala que uma mulher é linda, não precisa colocar a cor dela no meio da frase, dividindo a beleza entre brancas e pretas (a gente já é segregada em várias coisas, não precisamos de mais uma, obrigada!).
Na hora que você tá falando, pode até ser que não perceba, mas é só analisar bem para perceber que entre linhas está escrito: “entre as mulheres pretas, você é linda” ou “as mulheres pretas não são bonitas, mas você é”. Tá começando a perceber, né? Por isso que amo vocês!
Não tô aqui para dizer que você não pode elogiar a beleza de uma mana preta, muito pelo contrário, diga isso todos os dias se possível, mas diga também as brancas, as ruivas, índias, azuis, marcianas ou seja lá quem for. Diga apenas: Você é linda. Vê se não fica bem melhor!? Eu tô aqui falando para as meninas, mas a mesma regrinha vale para os meninos. Se o boy é lindo, ele é lindo e ponto final.
Olhando de primeira pode parecer que esse discurso vai contra a ideia de resistência negra, poder negro, mas é exatamente ao contrário. Ele é justamente para fortalecer a ideia de que ser preta é lindo e que ninguém precisa colocar um padrão nisso. É para a gente lembrar que há beleza em todas as pessoas, o que difere é a forma como nós olhamos para elas.
Ah, é sempre bom a gente abrir aquele parêntese enooooorme para dizer que elogio é uma coisa e assédio é outra bem diferente, mas isso é assunto para um outro textinho.
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Xerô no cangote d’ôces!